Saber e Fazer…. Competências de Habilidades?!?
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Thereza Bordoni
Mestre em educação. Consultora do Projeto Linha Direta. Diretora da A&B Consultoria e Desenvolvimento e do site www.vaganaescola.com.br. Palestrante. Contato: tbordoni@vaganaescola.com.br

O termo competência tem recebido vários significados ao longo do tempo. Percebo que em certos momentos algumas palavras assumem o significado de paradigma, e isto tem ocorrido com as palavras: competências e habilidades, apesar de que atualmente parece haver uma idéia comum de competência. Mesmo assim, sinto que precisamos ainda, clarear o real significado de termos tão usados por nós educadores. Me vêem a mente algumas questões como: Devemos dizer educar para competências ou educar por competências? A expressão “habilidades e competências”, que sentido tem? Afinal que significado tem estas palavras?

Se observarmos o funcionamento das estruturas intrínsecas do processo educacional como um todo, perceberemos que a organização escolar estrutura-se em função das respostas dadas a estas perguntas, isto é, em torno da ideia da formação do sujeito para resolver situações- problemas do dia-a-dia, que envolvem diferentes graus de complexidade.

Estudiosos contemporâneos, afirmam, que as transformações pelas quais a sociedade está passando, estão criando uma nova cultura e modificando as formas de produção e apropriação dos saberes. Por isto competências e habilidades ganharam destaque nos debates atuais, pois fazem referências simultâneas ao cotidiano social e educacional.

Segundo o professor Vasco Moretto, um dos sentidos de competência aflora na utilização da palavra no senso comum quando utilizamos expressões como “vou procurar um dentista, mas quero que seja competente”, ou “meu irmão é um pianista competente”. Todas elas têm o mesmo sentido: uma pessoa é competente quando tem os recursos para realizar bem uma determinada tarefa. A expressão isolada “fulano é competente” não tem muito sentido, provocando outra pergunta: “competente para fazer o quê?” Poderíamos dizer que Ronaldinho (jogador de futebol) é mais, ou menos, competente que Guga (tenista)?

Vislumbrando as várias acepções de competências, parece-me mais lógico o conceito de competência relacionado à capacidade de bem realizar uma tarefa, ou seja, de resolver uma situação complexa. Para isso, o sujeito deverá ter disponíveis os recursos necessários para serem mobilizados com vistas a resolver a situação na hora em que ela se apresente. Educar para competências é, então, ajudar o sujeito a adquirir e desenvolver as condições e/ou recursos que deverão ser mobilizados para resolver a situação complexa. “Assim, educar alguém para ser um pianista competente é criar as condições para que ele adquira os conhecimentos, as habilidades, as linguagens, os valores culturais e os emocionais relacionados à atividade específica de tocar piano muito bem” (Moretto).

A competência é “portátil”, por si só não é amarrada, tem de ter flexibilidade. Nessa análise, a ideia de competência é: “como me viro diante de uma situação complexa?”. A pessoa que realmente adquiriu uma competência tem condições de resolver esse tipo de situação com criatividade. Assim, a metodologia com relação a competências precisa dar conta de situações novas. O trabalho em grupo e os projetos estão se destacando como facilitadores para uma nova metodologia. Porém, nem sempre o professor nem o aluno estão preparados para trabalhar com projetos. Para os educadores o entrave é trabalhar com as deficiências que os alunos trazem, independentemente do que eles têm de saber; outra dificuldade que nós educadores temos é a de não termos sido educados para isso. Repetimos na nossa ação o modelo pelo qual fomos educados. A excessiva ênfase na compartimentalização em disciplinas é uma das coisas que dificultam o desenvolvimento de competências.

Tanto o ensino fundamental quanto o médio têm tradição conteudista. Na hora de falar de competência mais ampla, carrega-se no conteúdo. Não estamos conseguindo separar a ideia de competência de conteúdos, a escola traz para os alunos respostas para perguntas que eles não fizeram: o resultado é o desinteresse; as perguntas são mais importantes do que as respostas.

Em decorrência, será necessário também uma mudança no conceito do que é ensinar.

O professor é um elemento chave na organização das situações de aprendizagem, pois lhe compete dar condições para que o aluno “aprenda a aprender”, desenvolvendo situações de aprendizagens diferenciadas, estimulando a articulação entre saberes e competências. Em lugar de continuar a decorar conteúdos, o aluno passará a exercitar habilidades e, através delas, a aquisição de grandes competências, ou seja, desenvolvendo habilidades através dos conteúdos.

Caberia então aos professores mediar a construção do processo de conceituação a ser apropriado pelos alunos, buscando a promoção da aprendizagem e desenvolvendo condições para que eles participem da nova sociedade do conhecimento.

Nesse contexto definimos o papel do educador: aquele que prepara as melhores condições para o desenvolvimento de competências, isto é, aquele que, em sua atividade, não apenas transmite informações isoladas, mas apresenta conhecimentos contextualizados, usa estratégias para o desenvolvimento de habilidades específicas, utiliza linguagem adequada e contextualizada, respeita valores culturais e ajuda a administrar o emocional do aprendiz. E o ato de ensinar como o processo que proporciona a aquisição de recursos que possam ser mobilizados no momento em que situações-problema se apresentem.

Poderíamos dizer que uma competência permite a mobilização de conhecimentos para que se possa enfrentar uma determinada situação, uma capacidade de encontrar vários recursos, no momento e na forma adequadas. A competência implica uma mobilização dos conhecimentos e esquemas que se possui para desenvolver respostas inéditas, criativas, eficazes para problemas novos.

O conceito de habilidade também varia de autor para autor. As habilidades são inseparáveis da ação, mas exigem domínio de conhecimentos. As competências pressupõem operações mentais, capacidades para usar as habilidades, emprego de atitudes, adequadas à realização de tarefas e conhecimentos. Dessa forma as habilidades estão relacionadas ao saber fazer. Assim, identificar variáveis, compreender fenômenos, relacionar informações, analisar situações-problema, sintetizar, julgar, correlacionar e manipular são exemplos de habilidades.

Sabemos que é necessário educar para competências, mas como fazê-lo?
Torna-se necessária uma revisão daquilo que é desenvolvido em sala de aula, através da contextualização e da interdisciplinaridade. Ou seja, conteúdos impregnados da realidade do aluno demarcam o significado pedagógico da contextualização e a intercalação dos diversos conteúdos dentro de uma mesma disciplina explicita a interdisciplinaridade. Isso imprime significados e relevância aos conteúdos escolares, favorecendo uma ruptura com as práticas tradicionais e o avançar em direção a uma “educação competente”, pluralista, em rede, harmônica, flexível, aberta e processual.

PARA CONHECIMENTO:

Vasco Moretto aponta cinco recursos para resolução de situações complexas:

a) o conhecimento de conteúdos relacionados à situação; b) as habilidades (saber fazer) para resolver a situação; c) o domínio das linguagens específicas relacionadas ao contexto; d) a compreensão dos valores culturais que dão sentido à linguagem e que torna a situação relevante no contexto, e) a capacidade da administração do emocional diante do problema.

E as diretrizes do MEC explicitam 5 competências:

  • Domínio de linguagens
  • Compreensão de fenômenos
  • Construção de argumentações
  • Solução de problemas
  • Elaboração de propostas

OUTRAS VISÕES DE COMPETÊNCIA:

  • A competência é o que o aluno aprende. Não o que você ensina. (Jamil Cury/CNEB)
  • Competência é a capacidade de mobilizar conhecimentos, valores e decisões para agir de modo pertinente numa determinada situação. Competências e habilidades pertencem à mesma família. A diferença entre elas é determinada pelo contexto Em resumo: a competência só pode ser constituída na prática. (Guiomar Namo de Mello)
  • Competência – “qualidades de quem é capaz de apreciar e resolver certos assuntos”. Ela significa ainda habilidade, aptidão, idoneidade. Muitos conceitos estão presentes nessa definição: competente é aquele que julga, avalia e pondera; acha a solução e decide, depois de examinar e discutir determinada situação, de forma conveniente e adequada. É ainda quem tem capacidade resultante de conhecimentos adquiridos. (Dicionário Aurélio)
  • Competência em educação é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos como saberes, habilidades e informações – para solucionar com pertinência e eficácia uma série de situações. (Philippe Perrenoud)
  • Competência é mais do que um conhecimento; ela pode ser explicada como um saber que se traduz na tomada de decisões, na capacidade de avaliar e julgar. (Lino de Macedo)
  • Conceito de competência, já claramente exposto nas Diretrizes e bem repetido aqui pelo Professor Cordão, envolve muito mais que acumular conhecimento, desenvolver habilidades e introjetar valores. O sentido é muito importante: não é uma soma de valores, de conhecimentos, de habilidades. É a capacidade de mobilizar, articular e colocar em ação esses componentes, para um desempenho eficiente e eficaz. Então, valores, conhecimentos e habilidades são componentes que, por si sós, não são a competência. (Bahij Amin Aur – Conselho Estadual de Educação de SP)
  • Competência: “o saber em ação” ou “o agir em situação”. DEB (2001): Currículo nacional do Ensino Básico Competências Essenciais; Ministério da Educação, Departamento da Educação Básica, Lisboa.
  • A ideia de competências tem três ingredientes básicos. Primeiro: relaciona-se diretamente à ideia de pessoa. Você não pode dizer que um computador é competente; competente é o seu usuário, uma pessoa. Segundo: a competência vincula-se à ideia de mobilização, ou seja, a capacidade de se mobilizar o que se sabe para realizar o que se busca. É um saber em ação. Aliás, da má compreensão desse aspecto vem outra crítica, a de competência como mero saber fazer algo. Agir é mais do que fazer. (Nilson Machado)
  •  Um conceito de competência pode ser apresentado como o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes demonstrados pela pessoa na realização de uma tarefa. Dizemos que somos competentes numa atividade quando esse conjunto de comportamentos apresentados resulta no sucesso para a realização daquela atividade. (Harber)
  • Competências se desenvolvem em um contexto. Aprender, fazendo, o que não se sabe fazer. (Philippe Meirieu)

PARA PENSAR:

  • A quem compete facilitar o desenvolvimento de competências?
  •  O que é ser competente?
  • Nós queremos desenvolver competências sob que ótica: a do capital, a do saber escolar, a da vida?
  • Quais as grandes mudanças por parte do professor e do aluno no ensino atual e no ensino para competência?
  • A competência valoriza o profissional?
  • O que o aluno ganha com isso?

Bibliografia:
BRASIL, MEC. Em Aberto (Currículo: referenciais e tendências). INEP, Brasília, N.º 58, abril/jun. 1993.
COLL, César et alii. Os Conteúdos na Reforma: ensino e aprendizagem de conceitos, procedimentos e atitudes, Porto Alegre, Artes Médicas, 1998
JANTSCH, A. P. e BIANCHETTI, L. (Orgs). Interdisciplinaridade. Rio de Janeiro, Vozes, 1995.
MORETTO, Vasco P. Construtivismo, a produção do conhecimento em aula. 3ª ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
MORIN, Edgar. Sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cotez,2000.
PERRENOUD, Philipe. Construir as competências desde a escola, Porto Alegre, Artes Médicas, 2000.
____________. Dez novas competências para ensinar, Porto Alegre, Artes Médicas, 1999.
REVISTA NOVA ESCOLA. Edições diversas.